PAULO AFONSO– Para começo de conversa, nunca se viu tanta autoridade feminina reunida e disposta a falar publicamente de assuntos sensíveis, como nesta sexta-feira, 7 de março, na Câmara Municipal, na véspera do Dia Internacional da Mulher.
A vereadora Márcia Goretti (Mobiliza), que, ontem, esteve visitando detentas no presídio Regional de Paulo Afonso, ensejou a sessão especial, aprovada na outra semana pela unanimidade da Casa, para sublinhar conquistas no campo social, político e econômico das mulheres ao longo dos últimos anos.
“Também tinha como proposta unir o Legislativo à rede de proteção à mulher que existe no município para que a gente avance nas demandas nossas”, pontuou ela. Mesmo otimista, Goretti foi surpreendida com a presença em peso do governo, do prefeito Galinho (PSD), inclusive, durante toda a sessão, e das autoridades e mulheres do povo.
Durante a sessão, embalada por hits clássicos do período, como ‘Mulher’ de Erasmo Carlos, com versos sofridos na boca do presidente Zé de Abel (PSD), criou-se um ambiente acolhedor e propício para desabafos, alguns que vinham contidos nos escaninhos da alma e que machucam a mulher na vida adulta.
As três delegadas de Paulo Afonso, Mirela e Jane, da Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher), titular e adjunta, respectivamente; mais Juliana Fontes, a escrivã Esther e a coordenação do Programa Ronda Maria da Penha, formaram o núcleo do direito e da proteção do estado às mulheres.
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Um ato político: Márcia Goretti não perdeu a oportunidade de promover um momento histórico na Casa. Como a bancada feminina tem quatro mulheres, além dela, Sheila Bello (Avante), Evinha (Solidariedade) e Cícera Macário (PSDB), a vereadora chamou as colegas para a bancada e formou-se uma Mesa Diretora só de Mulheres, algo inimaginável até pouco tempo atrás, ainda que numa sessão especial.
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O governo presente em peso: Márcia não tinha expectativa sobre a presença do prefeito, porém, ele veio e ficou até sair o suco com bolo, o famoso coffee break, cercado por quase a totalidade das suas secretárias.
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Um começo promissor: “Eu venho com pensamento em promover aqui no Legislativo políticas públicas que alcance mais mulheres. Formei duas filhas médicas com tanto esforço, tive uma trajetória na qual eu precisei superar muita coisa e abrir portas que estavam fechadas para mim. Não tenho vaidade, aqui para esse evento, tive a colaboração da presidência da Casa, estou aberta ao diálogo e vou andar muito para conseguir realizar projetos dentro do nosso limite de Legislativo.”
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Sem politicagem: A sessão especial do Dia da Mulher, foi apenas delas. Não houve situação nem oposição. Aliás, minto: houve convergência na pauta e fluidez nas intenções.
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Cícera Macário surpreendeu com a história sofrida de sua infância. À vontade, a vereadora Cícera revelou uma infância cruel, atravessada pelo alcoolismo do pai. “Nunca sofri violência sexual, mas apanhei muito. Era comum meu pai chegar em casa bêbedo e nos colocar para fora, a gente dormia ao relento”, diz ela.
A vereadora teve alfabetização tardia. “Na minha família a educação não era prioridade. Quem me conheceu naquele tempo e me ver aqui hoje, nem acredita.”
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Em resumo: a sessão mostrou protagonismo promissor das mulheres, mas com desafios impostos pela dinâmica política. Tanto mais próxima for a parlamentar da população, maior será a rota de colisão com o governo.
“Estou muito feliz por tudo, me deu mais vontade de trabalhar. A sessão de hoje foi um farol para mim, com a presença das pessoas da área rural, tantas histórias, me deu a confiança necessária”, encerra Goretti.
