PAULO AFONSO– Demorou dezesseis anos, desde que o candidato da oposição, Raimundo Caires, prefeito eleito pelo PSB com margem apertada sobre Wilson Pereira – menos de dois mil votos-, conseguisse por descuido de Paulo de Deus, prefeito à época, quebrar a hegemonia do grupo Deus no município, aquela altura também, um ciclo de quatro mandatos.
Com vantagem fragorosa de 10 mil votos, algo inédito, restou evidente que Galinho (PSD), embora estivesse há 6 anos consecutivos investindo na tentativa de ser prefeito, calculou mal sua vantagem. Ou seja, se precipitou em forjar alianças com a turma abandonada por Marcondes. Dito de forma direta: Galinho ganharia sem nenhum deles. Ganhou porque a maioria da população não suportou mais o descaso.
É evidente que, a política sendo dinâmica e, por isso mesmo, volátil, o Galo achou por bem não dá chance ao azar, mas exagerou. Primeiro, deu a condição de vice ao maior amigo de Luiz de Deus, Pedro Macário (PSDB), e, em consequência disso, vieram os apoios de Zé de Abel (PSD) e Paulo Tatu (PSDB), mais Keko (Avante), os demais já estavam na oposição. Pois, Bero do Jardim Bahia (PSD) e Gilmário Marinho (PSD), foram pegar fogo no governo e voltaram, escanteados por Marcondes, e Leda (PSDB) veio na rebaba.
Os que conseguiram a reeleição deste grupão não atribuem o feito ao Galo. “Tinha vereador se queixando essa semana na Câmara porque gastou próximo de 1 milhão de reais e tirou uma votação aquém do esperado”, comentou ao Painel, um assessor da Câmara. Então o fato de esse vereador está próximo ao Galo não serviu para rigorosamente nada, não gastasse a bela quantia, teria fracassado.
É certo que tantas lideranças assim, deixou a campanha encorpada e abriu veredas em campos dominados pelos Deus, mas também ficou matematicamente comprovado que Galinho ganharia sozinho e Deus, como a gente diz.
Eis que agora eleito, o QG do Galo virou uma espécie de romaria pelos cargos. Galinho está sob pressão para dizer logo quem ocupará o quê no seu governo e, principalmente, o loteamento dos inúmeros cargos de confiança.
“Eu estava no banheiro de um clube e ouvi quando duas mulheres entraram e começaram a falar. Uma explicava a outra que deixaria o emprego, pois tal vereador lhe prometeu um trabalho melhor na prefeitura”, relatou ao Painel uma fonte.
“Tem político aí calculando mais de 50 cargos”, disse outra fonte, dando um cenário de desgosto para quem queria um governo novo também na forma.
Óbvio que, se há postos de confiança, esses devem ser ocupados por quem batalhou pela eleição de Galinho – seguindo critérios. Não há como ser de outro jeito. Contudo, o loteamento é algo muito diferente, diz respeito a vícios antigos que os políticos que os praticam não se manteriam no poder sem eles.
O prefeito eleito precisa ter bastante ponderação e resistência. Se nunca houve tantos cargos de confiança, é preciso enxugar, trazer pessoas que queiram contribuir com a gestão sem espantar os aliados. Dito de outra forma: o governo precisa de filtros.
Não é fácil incutir no aliado a mentalidade da “reconstrução”, quando se parte do mesmo costume errado. O governo não é uma vaca cheia de tetas, especialmente com uma dívida que voa na casa das centenas de milhões.
Se faz necessário pragmatismo, trabalho duro, sério e muita, muita comunicação para que a população entenda o passo a passo das pequenas, grandes e urgentes mudanças que o governo eleito precisará promover.