O deputado federal Mário Negromonte Júnior assumiu a presidência do PP da Bahia com a missão de tentar unificar o partido que está dividido entre os apoiadores do governador Jerônimo Rodrigues (PT) e os aliados do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União). Justamente por transitar bem entre as duas alas do partido ele derrotou na disputa interna o ex-deputado federal Ronaldo Carletto, que deixou a sigla e passou a comandar o Avante no Estado.
Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, concedida ontem (05), na sede estadual do PP, na Avenida Luiz Viana Filho (Paralela), em Salvador, Mário Júnior fala sobre os desafios de imprimir a própria marca na presidência de uma das maiores siglas do Brasil e da Bahia, a exemplo do que fez o pai, Mário Negromonte, atual conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), e o deputado federal João Leão.
Aos 42 anos, com um mandato de deputado estadual na biografia e ocupando pela quarta vez consecutiva uma cadeira na Câmara Federal, o novo presidente do PP conta detalhes sobre o processo sucessório interno, muitos dos quais revelados com exclusividade pelo site, e evita tomar posições que sejam compreendidas como um movimento individual para favorecer uma das alas do partido. Ele garante que todas as decisões serão coletivas, inclusive no que se refere ao pleito municipal de 2024 na capital e nas maiores cidades do interior.
Mário Júnior também defende que o PP integre a base do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), faz elogios ao ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), e assegura que não conversou sobre política com o governador Jerônimo Rodrigues (PT) após a convenção pepista. Sobre um eventual apoio institucional da sigla ao governo estadual, o deputado ressalta que o chefe do Executivo também precisa demonstrar interesse.
Sobre 2026, Mário Júnior, que nasceu em uma família de forte tradição política em Paulo Afonso e região, não descarta disputar uma das vagas ao Senado, embora, garanta que não planeje esse movimento. “Temos excelentes nomes de parlamentares e prefeitos que podem contribuir com uma eventual chapa majoritária. Eu sou apenas um deles”, diz.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Política Livre – O senhor assumiu a presidência do PP da Bahia sucedendo duas lideranças consideradas fundamentais no processo de construção, independência e crescimento do partido na Bahia, antes uma sigla apêndice do carlismo: seu pai, Mário Negromonte, político experiente e atual conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), e o ex-vice-governador e atual deputado federal João Leão. O que pretende fazer de diferente deles?
Mário Negromonte Júnior – Eu tenho em Mário Negromonte e em João Leão duas referências. Eles fizeram um grande trabalho, conduzindo o partido até aqui, com crescimento. Deram uma contribuição importante e tiveram um grande papel. Não será fácil dar sequência a esse trabalho, mas terei a oportunidade de pegar os erros e os acertos dos dois e fazer o partido crescer em meio a este momento em que vivemos. Vai ser um desafio, mas tenho certeza que dará certo no final. Vou procurar deixar a minha marca, construir o meu legado.
O partido hoje vive uma divisão interna: de um lado, o grupo que já está na base do governo Jerônimo Rodrigues e se reaproximou do PT após o pleito de 2022; do outro, os que preferem seguir ao lado do prefeito Bruno Reis (União) e do ex-prefeito ACM Neto (União). O senhor pretende trabalhar pela unificação ou isso não será possível?
Primeiro, vamos exercer muito o diálogo, respeitando todos, buscando sempre o entendimento. Eu acho que o melhor caminho é estar ao lado da maioria do partido, mas sempre respeitando a posição da minoria. Com fé em Deus, vamos construir isso. Aliás, eu fui eleito presidente do PP justamente porque tenho um bom trânsito com todos, tanto dentro quanto fora do partido. O momento agora é muito interno, de conversas, de tratar das eleições municipais de olho no pleito de 2026 e de buscar a unidade sempre que for possível.
A maioria hoje é aquela representada pelos deputados estaduais e parte considerável dos prefeitos do PP, que desejam que a sigla faça parte da base de Jerônimo?
Não temos uma maioria formada. Não houve reunião sobre isso ainda. Faremos uma reunião para definir o melhor caminho. Agora, quando se tem uma questão dessa de apoiamento, as duas partes têm que querer, e não basta só o partido. Para isso tem que conversar e ainda não há conversa sobre isso, até porque acabamos de ter a eleição do novo diretório e da nova Executiva do PP da Bahia e estamos focados em eleger o maior número de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores em 2024. Por isso, a gente vai buscar agora os critérios para as definições nos municípios, os projetos municipais, e esse é o nosso grande desafio agora, sempre lutando pela união do partido. Além disso, a posição dos deputados estaduais e dos prefeitos não necessariamente pode ser a mesma do diretório e da Executiva.
Depois da convenção você foi procurado por Jerônimo, por Bruno Reis, por ACM Neto ou pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT)? Tem mantido diálogo com essas lideranças?
Conversei com muita gente em Brasília, no aeroporto, pessoas que me parabenizaram, de diversos partidos. Aliás, recebemos na convenção deputados estaduais e federais de outros partidos, como Vitor Azevedo (PL), Diego Coronel (PSD), Fátima Nunes (PT) e Marcelinho Veiga (União). Outros falaram comigo depois, como os deputados federais Bacelar (PV) e Alice Portugal (PCdoB). Agora, muitos me ligaram desejando tudo de bom, mas se não fizeram isso publicamente, e sim no privado, acho que essas pessoas querem que isso fique no privado.
Então você ainda não teve uma conversa política com nenhuma das principais lideranças da política baiana sobre o futuro do PP neste novo momento?
Tenho conversado mais sobre questões nacionais. Participei de reuniões com prefeitos e os consórcios municipais, na União dos Municípios da Bahia (UPB), ouvindo demandas de prefeitos, uma delas com a presença de Rui Costa e outros agentes da política baiana de todos os campos. Mas sempre com cordialidade, sem tratar das questões internas do PP. O momento agora do partido é muito mais interno, de falar para dentro.
Por isso o prefeito da capital e nem o governador foram convidados para a convenção?
A gente decidiu fazer uma convenção mais entre os amigos, trabalhando mais para dentro do partido na Bahia. Pensamos até em trazer o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do partido, mas optamos por fazer algo menor, no auditório da nossa sede, em Salvador. Não fizemos convite para fora do partido. Quem veio de fora foi porque quis comparecer, de forma cordial.
Esse processo que resultou na convenção estadual que confirmou a sua eleição para presidente do PP começou entre novembro e dezembro de 2022, quando João Leão anunciou, em conversa com o Política Livre, que deixaria o posto. O senhor defendia essa renovação, a exemplo da maioria dos políticos com mandato da legenda?
Quando Leão falou que não queria mais, consideramos que era natural se buscar a renovação.
Nesse início, o senhor já pleiteava a sucessão interna?
Alguns amigos achavam que eu devia ser candidato justamente porque eu sempre fui um cara que transita bem e tinha o respeito das alas do partido. Para essas pessoas, seria, por exemplo, um carimbo muito grande ter um partido presidido por Cacá Leão (secretário de Governo da Prefeitura de Salvador), que foi candidato a senador na chapa de ACM Neto, ou por Ronaldo Carletto (Avante), que já defendia uma posição clara de apoio ao governo do Estado. Num momento em que o partido vivia essa divisão, e ainda vive, fui colocado como uma pessoa que poderia tentar intermediar isso da melhor forma possível, como estou tentando fazer. Foi um processo que durou seis meses essa questão da sucessão, porque teve muita conversa, e eu tentei fazer um acordo com Ronaldo.
O acordo era a proposta de rodízio na presidência, começando pelo senhor?
Sim. Desde as primeiras reuniões do partido ficou claro que havia uma maioria a meu favor. Mas Ronaldo queria o mandato de um ano, e isso não era aceito. No início, na primeira reunião que tivemos (em abril), ele chegou a dizer que me apoiaria, mas na semana seguinte a conversa já não era mais a mesma. Não vejo sentido algum uma presidência de um ano. Eu não teria tempo de imprimir a minha marca. Leão deixou a marca dele, o meu pai também, e tenho o direito de deixar a minha, o que só se faz com tempo de trabalho. Foi o que eu fiz quando assumi a presidência nacional da Juventude Progressista, momento em que coloquei em prática uma campanha de filiação que fez do PP o partido com o maior número de filiados do Brasil. Isso só se faz com planejamento, com tempo, e quero fazer aqui na Bahia, com o apoio dos nossos movimentos ligados à juventude, às mulheres, ao afro.
Mesmo quando já estava internamente definido que você seria o sucessor de João Leão, ainda houve uma demora grande para a confirmação oficial e muita especulação, inclusive de que Ronaldo Carletto já estaria negociando com o apoio de lideranças petistas o ingresso em uma nova sigla antes que o próprio anunciasse à imprensa. Isso ocorreu de fato?
Fiz de tudo, e o partido também, para que Ronaldo ficasse no PP. Esgotamos ao máximo as conversas. Sou da opinião de que o partido é mais importante do que os projetos individuais de cada um. No meio dessas conversas sobre o rodízio (na presidência do PP), o comando do partido, na convenção nacional, decidiu que os mandatos de presidente seriam de três anos. Aí não sei se Ronaldo já tinha essa movimentação que alguns falavam de sair, mas tentei ao máximo que ele ficasse porque é uma liderança importante. Ele teve quatro mandatos de deputado federal, e eu estou no quarto. Ele tinha mais tempo de filiação, mas eu entrei no PP com 16, 17 anos e também estou há bastante tempo. Nossa vontade foi que ele permanecesse.
Qual foi o papel da Executiva nacional do PP nesse processo de sucessão de Leão, já que muitas reuniões ocorreram também em Brasília?
A Executiva nacional participou de forma ativa. O presidente nacional Ciro Nogueira, o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (AL), e o líder do partido na Casa, André Futuca (MA), apoiaram meu nome pela história do meu pai, que comandou por quatro vezes o partido na Câmara e foi vice-presidente nacional por muito tempo, e por tudo que eu construí e conquistei ao longo do tempo em Brasília. Claro que houve respeito a Ronaldo e a todos nessa construção, mas no final se concretizou esse processo.
Neto Carletto, sobrinho de Ronaldo, deve deixar o PP também?
O deputado Neto Carletto garantiu, segundo Ciro Nogueira me disse, e eu não participei dessa reunião, que ia ficar no partido e seguir a orientação do partido nas votações. Arthur Lira estava presente também. Ele (Neto Carletto) afirmou nessa reunião que será candidato a deputado federal pelo PP em 2026. Ele repetiu isso em conversa com João Leão, com Jabes Ribeiro (secretário-geral da legenda na Bahia) e com Cacá Leão, no dia em que declarou apoio a mim.
Então os espaços que Neto Carletto têm no PP serão mantidos, a exemplo dos diretórios municipais?
Eu chamei Neto Carletto para ser vice-presidente do PP da Bahia e pedi a ele que me ajudasse nesse processo de fortalecimento do partido. Eu disse que onde ele foi votado e onde tem candidato a prefeito ligado a ele que tenha um projeto, nós vamos respeitar, buscando sempre o que for melhor parra o partido.
O senhor se sentiu traído ou magoado com a saída de Ronaldo Carletto?
Não, zero mágoa com ele. Se em determinado momento ele criou uma grande expectativa de ser presidente e não aconteceu, ele deve ter entendido que o ciclo dele no PP acabou e foi buscar outro partido. Desejo sorte a ele.
Teme que o PP seja desidratado pelo novo partido de Ronaldo Carletto, o Avante, em movimento que teria o respaldo de Jerônimo e de Rui Costa?
Veja, o PP tem história de muitos anos no Brasil e na Bahia, uma história de crescimento. Nós temos 53 deputados federais em Brasília. Na Bahia, temos quatro federais e seis estaduais. O Avante só tem sete deputados federais, sendo um na Bahia. Isso significa que temos muito mais tempo de TV e rádio, mais fundo partidário, e isso é fundamental para quem vai disputar as eleições em 2024 e em 2026. Temos muito mais estrutura. Ronaldo sabe que partido é construção, e o desafio é grande. Ele sabe que todo partido tem problema. Às vezes, você muda de partido e só muda de problema. Ele tem um desafio grande e espero que tenha sucesso. Eu vou lutar pelo PP. Tenho recebido muitas pessoas que querem entrar na legenda, conhecer esse projeto novo que nasce em uma base consolidada. O partido tem um número forte, que é o 11, e isso é muito importante principalmente no interior. Então, acredito que as coisas vão avançar e o partido vai continuar grande. Vamos comparar depois do resultado das urnas de 2024 e 2026.
Mas o PP tem perdido alguns prefeitos para o Avante. Se fala que o número pode passar de 20…
Ainda não temos números oficiais sobre isso. Mas também estamos conversando para trazer prefeitos com mandato e candidatos.
O deputado federal Cláudio Cajado, que apoiava Ronaldo Carletto na disputa interna pelo comando do PP baiano, pode deixar o partido?
Olha, Cajado acabou de ser relator do arcabouço fiscal na Câmara, foi presidente nacional do PP enquanto Ciro Nogueira era ministro no governo passado e está bem posicionado dentro da legenda. Não vejo um cenário de saída dele. Cajado sabe da importância nacional do partido e é muito ligado a Ciro. Chegaram até a morar juntos em Brasília, eu acho. Eu quero trabalhar junto com Cajado, valorizá-lo cada vez mais, para que ele possa nos ajudar no crescimento do partido. João Leão e Mário Negromonte não fizeram nada sozinhos. Eu também vou precisar de todas as lideranças progressistas nesse momento. Farei a minha parte e vou pedir a colaboração de todos. Cajado, inclusive, é um dos vice-presidentes do partido no Estado e se comprometeu com a ata da nossa convenção.
E quanto ao deputado estadual Nelson Leal, o único deputado do PP que não teve cadeira na Executiva e nem diretório da sigla e que acusou o senhor de não cumprir com ele acordos eleitorais em 2022?
Ele combinou conosco que não queria participar do diretório ou da Executiva. Eu acho que Nelson Leal é muito pragmático. Ele teve muitas oportunidades no partido. Foi presidente da Assembleia Legislativa indicado pelo partido. Depois, foi secretário estadual de Desenvolvimento Econômico também pelo partido. Eu sempre o apoiei, assim como o PP. Eu não levei para o coração (as críticas) e espero que, lá na frente, a gente ainda possa conversar. Quero poder dar um abraço nele. Fomos deputados estaduais juntos, tenho respeito por ele. Eu digo que esse processo dentro do PP foi uma batalha de seis meses que deixou feridas, cicatrizes. Com o tempo, espero que isso passe.
Durante a convenção, o senhor disse que pretende levar o comando do PP para o interior e ouvir a todos antes de tomar decisões importantes. Fará isso em relação a ser governo ou oposição na Bahia?
Quero levar o partido para o interior e fazer encontros regionais planejados. As grandes decisões serão conversadas. E as posições serão adotadas em sintonia com o desejo da maioria. Tudo, não só se seremos governo ou oposição, precisa estar em sintonia.
O senhor também disse que tem a sua posição pessoal sobre isso, de ser governo ou oposição no Estado, mas que preferia não revelar. Já pode dizer qual é essa posição?
Primeiro, a posição que posso externar é que quero a união e o fortalecimento do partido. É o que vou perseguir todos os dias, construindo pontes. Independentemente de onde quer que estejamos no cenário político, quero sempre manter o partido dialogando com todos que fazem política na Bahia. Esse é o objetivo a se percorrer. Nunca uma posição pessoal minha vai sobressair. Não tomarei atitudes monocráticas. Vamos tomar decisões coletivas, sempre perseguindo a maioria. Até para que eu possa dividir também a responsabilidade pelas decisões.
Mas qual é a sua posição?
Com certeza você vai saber já, já. Nesse momento tenho que me comportar como magistrado e construir pontes. Também irei abraçar no partido quem for minoritário, vendo a melhor forma de dar espaço a todos. Quero ser a referência para os dois lados.
O senhor defende, em Brasília, que o PP apoie o governo do presidente Lula (PT)?
Sim. Eu declarei apoio a Lula no primeiro turno das eleições de 2022 lá em Paulo Afonso e tenho feito o possível para ajudar o governo dentro do partido. Ciro Nogueira já me deu essa autonomia.
Arthur Lira tem dito que o governo Lula tem problemas na articulação política. O senhor concorda?
Essa aproximação do governo com o Congresso tem que ser constante, mantendo sempre o diálogo. O cenário hoje é diferente dos outros dois mandatos de Lula. Os deputados estão com as emendas impositivas, que dobraram de valor, e, com isso, têm mais independência. Por isso, eles podem votar mais vinculados a questões partidárias, por exemplo.
Rui Costa tem sido alvo de muitas críticas de parlamentares, sobretudo após as declarações que deu recentemente sobre o certo e o errado em Brasília. As críticas são justas?
Tenho uma boa relação com ele. A gente se dá bem e se trata com muita educação e respeito. Uma declaração tem maior peso a depender de onde você está, do cargo que ocupa. E ele está na Casa Civil, e tudo toma uma dimensão muito grande. Além disso, Rui Costa não faz articulação política, ele não tem essa obrigação. O papel dele é mais de “gerentão”, de gestor.
Brasília é uma ilha da fantasia?
Não acho. Eu adoro Brasília. Vou lá desde que meu pai era deputado. Quase morei lá quando estava estudando para um concurso de delegado federal, que foi cancelado depois e fui estudar fora do país. Trata-se de uma cidade maravilhosa. Enquanto São Paulo tem o dinheiro, Brasília concentra o poder e as principais decisões do país.
O senhor vai indicar cargos federais na Bahia, já que apoia o governo Lula?
Não sentei com ninguém para tratar de cargos, mesmo sendo o único do PP que declarou que votou em Lula. Não fui chamado e não tive conversa nesse sentido com Alexandre Padilha (ministro das Relações Institucionais).
Em 2022 o PP tomou uma decisão difícil, sob a liderança de João Leão, que foi a de romper com o PT e apoiar ACM Neto na disputa pelo Palácio de Ondina. Em sua opinião, foi uma decisão acertada?
Claro que tenho minha opinião, mas não vou ficar falando que foi certo ou errado ou ficar apontando culpados. Não é o meu papel aqui. O meu papel é não repetir os erros e seguir o caminho dos acertos, buscar o aperfeiçoamento. Claro que alguns querem procurar culpados por decisões que não deram certo, mas não trabalho dessa forma.
O senhor participou internamente daquele processo que resultou no rompimento com o PT, no qual João Leão se disse traído pelo então governador Rui Costa?
Veja bem, eu estava um pouco distante, cuidando da minha campanha. Não acompanhei de perto. Mas a gente, o partido todo, foi solidário a João Leão pelo que aconteceu. Meu pai e Leão têm uma amizade de mais de 40 anos e isso é muito forte. Então, acho que seria mais difícil para os baianos entenderem se eu tivesse tomado outra decisão senão a de seguir o partido. Acompanhei a decisão do partido até o final.
Perdeu votos por isso?
Não perdi lideranças. Até porque não houve perseguição nem de Rui Costa e nem do senador Jaques Wagner (PT), e eu falo que guardo isso no meu coração, porque também nunca ataquei ninguém. Fiz meu papel, o que deveria ser feito.
Cacá Leão afirmou que o PP já fechou questão em Salvador e vai apoiar a reeleição de Bruno Reis. O senhor confirma?
Olha, eu fiz um compromisso que ia tomar uma decisão ouvindo a todos e fazer o anúncio oficial de toda ou qualquer posição do PP sobre as eleições, inclusive nas maiores cidades.
Então não há definição sobre Salvador?
Não quero falar nem que sim, e nem que não. O anúncio oficial quero fazer dividindo com todos a responsabilidade para que não fique parecendo que foi uma decisão monocrática. Isso será dividido com a Executiva. Lógico que Cacá é uma pessoa por quem tenho um carinho grande, teve um papel relevante na minha eleição para presidente, e sou muito grato. A opinião dele vai pesar muito sobre Salvador.
Em meio à divisão do PP, qual será o critério para a definição dos comandos municipais da legenda e a escolha de candidatos ou apoiamentos?
A Executiva do PP vai definir candidatos nos 30 maiores municípios da Bahia, o que inclui Salvador. Temos autonomia da nacional para fazer isso. Existem vários critérios, como antiguidade, preferência para quem vai disputar a reeleição, quem tem um projeto consolidado. Vamos sempre ver o melhor caminho. É mais ou menos o critério que o PP sempre vinha adotando, com uma mudança ou outra.
Existe possibilidade de o PP lançar candidatura própria à Prefeitura de Salvador?
Estamos analisando a possibilidade de lançar o maior número de candidatos. Para Salvador, no entanto, isso só vai acontecer se surgir um nome muito significativo. Na eleição passada (de 2020), a gente começou com o nome do deputado estadual Niltinho em Salvador, mas depois indicamos o vice na chapa da deputada estadual Olívia Santana (PCdoB). Em 2016, tivemos candidato, que foi Cláudio Silva. Mas sempre tivemos uma posição neutra, não éramos nem PT e nem ACM. Nessa eleição do ano que vem só lançaremos nome na capital se houver potencial de vitória.
Quando João Leão era vice-governador, seu partido já chegou a ter uma centena de prefeitos na Bahia. É possível repetir esse desempenho?
Eu vou saber disso depois de analisarmos o cenário, a partir de uma reunião que teremos com a Executiva, os deputados. Estamos definindo uma data para esse encontro, que deve ocorrer depois do São João.
Já está pensando em 2026? Pode concorrer a uma cadeira no Senado?
A eleição de 2026 passa pela de 2024, pelas construções que serão feitas antes, durante e depois do pleito municipal. Sobre minhas pretensões, meu sonho sempre foi ser deputado federal. Realizei isso aos 34 anos, graças a Deus e ao povo baiano que me deu a oportunidade. Não tenho obsessão por nada daqui para a frente. Se for da vontade de Deus que eu seja algum dia candidato a prefeito de Paulo Afonso ou de Glória, onde minha mãe é novamente pré-candidata e já foi prefeita por oito anos, e onde meu primo é o atual prefeito, aceitarei a missão partidária e não fecho a porta se for da vontade do povo. Sobre o Senado, a mesma coisa.
Na disputa interna pelo comando do PP, o senhor trabalhou em silêncio. Há quem diga que essa pode ser a mesma estratégia para 2026, quando o seu partido, pelo tamanho que tem, certamente será procurado pelos candidatos a governador em um cenário com duas vagas para o Senado…
Eu sempre preferi trabalhar mais calado, fazer o movimento sem aparecer, mas essa questão do Senado também é destino. Primeiro tenho que honrar os votos que recebi para deputado federal e cumprir minha missão de fazer o PP crescer ainda mais. Além disso, temos excelentes nomes de parlamentares e prefeitos que podem contribuir com uma eventual chapa majoritária. Eu sou apenas um deles.
Seu pai, Mário Negromonte, se aposenta ano que vem do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Ele pensa em retornar à política?
Meu pai é novo ainda, vai fazer 75 anos, e está com muita disposição. Vai se aposentar do tribunal porque é a regra. Mas ele tem a cabeça muito boa, apesar de estar afastado da política. Ele tem uma vontade de trabalhar muito grande ainda. E ele vai decidir o futuro dele daqui a pouco, se vai voltar para a iniciativa privada, onde foi empresário e advogado, ou se vai querer se dedicar à família, aos netos, aos filhos. A decisão que ele tomar terá o meu apoio.
Por Política Livre