PAULO AFONSO- João David, 5 anos, logo que veio ao mundo – em Aracaju- enfrentou três meses de internação, dois deles numa UTI, quando sobreviveu a duas paradas cardíacas e, pesando 1,7 kg passou a ser o filho de Márcia Goretti, 48 anos.
Filho biológico de uma tia de Márcia que é paciente psiquiatra, João David já estava predestinado a ela. “A vinda de João David – meu presente de Deus- não foi algo planejado, mas uma consequência da vida que eu não pude me negar”, explica.
Márcia foi conselheira tutelar por dois mandatos consecutivos a sabia que o bebê seria levado a adoção de qualquer maneira. “João David precisa de tratamentos bem específicos: oftalmo, otorrino e cardiológicos, e foi um contexto muito novo para mim”, lembra ela.
Quando o filho completou 3 anos e foi diagnosticado com autismo e TOD – Transtorno de Oposição Desafiante – Márcia, incialmente, rejeitou o resultado. “Eu não via e não aceitava, dizia que era um menino imperativo. Porém, no primeiro diagnóstico o autismo de João David foi considerado bem acentuado.”
Márcia conta que precisou mudar toda a vida. “Foi um mundo novo que eu precisei viver, e minha vida mudou para melhor, costumo dizer que ele é meu chaveirinho da sorte. Me deu muito trabalho, chorei muitas noites, porque a gente passa por várias situações e esse coração azul nos trás muitas consequências: foi difícil achar alguém para nos ajudar em casa e inseri-lo dentro da escola sem ter um problema”, conta.
Para além das questões pessoais, familiares e de saúde, a mãe de João David tem outra barreira pela frente: vencer uma eleição para vereadora e transpor a estatística do governo federal segundo a qual, apenas 38% das mulheres em cargos de lideranças são mães.
Conciliar maternidade e liderança, ou seja, ter bom desempenho no pleito deste ano é um dos desafios impostos a parte das mulheres que vão disputar uma vaga para o Legislativo. E, por isso mesmo, um incentivo a mais para a campanha delas:
“Diante de tantos casos, o meu é pequeno. Como eu trabalho dentro da saúde, garanto que meu filho teve um suporte maravilhoso e, dentro do Centro de Especialidades, a gente vê muitos diagnósticos e variadas situações das famílias; nem sempre uma mãe atípica é uma mulher que tem estrutura, muitas vezes ela própria precisa de cuidados especiais, precisa de suporte e não falo somente do poder público, precisa para levar a vida em família, então são muitas situações dramáticas que a gente acaba conhecendo.”
“Não cheguei aqui do nada”
“A minha caminhada vem de mim, da minha família e quem me conhece sabe que eu sempre gostei de ajudar aos amigos e aos conhecidos. Sempre fui resolutiva e sempre soube entrar e sair em todos os lugares. Sempre tive como referência olhar o outro de forma humana, com empatia. Eu acredito que trabalhar no Legislativo é defender projetos positivos para a sociedade. Caminhei como conselheira, coordenadora do CREA e posso somar apresentando políticas públicas para mulheres e crianças.”