PAULO AFONSO- Qual prefeito no Brasil ou no mundo, ciente de suas responsabilidades – e do destino que tem a cumprir o servidor público que comete prevaricação e/ou improbidade administrativa, ficaria em silêncio ou melhor: deixaria o secretário responsável por dar respostas à sociedade calado, ante a denúncia de tamanha relevância como a feita nesta segunda-feira 28, pelo vereador Marconi Daniel (Podemos) e o repórter Gil Leal, à Angiquinho FM, de que dentro do Hospital Nair Alves de Souza, gerido pelo município, funciona uma venda paralela de produtos hospitalares, com direito ao paciente parcelar no cartão de crédito?
Duas respostas possíveis: um prefeito irresponsável ou um alienado que não sabe o que se passa ao seu redor.
Considerando a biografia do prefeito, deve-se concluir que irresponsável ele não é. Resta a segunda opção.
Antes é preciso fazer uma ressalva. Tem método a estratégia da prefeitura diante de tal enormidade: deixar o assunto morrer e poupar autoridades de maiores complicações.
Outro ponto: com isso tenta-se também desacreditar a fonte, ou seja, se é o “fulano” deixa ele falar o que quiser, ainda que seja um absurdo como este, pois, do contrário, respondendo e cobrando provas, é como se desse credibilidade à imprensa da qual se deseja ignorar.
Não deixa de ser impressionante como autoridades públicas se permitem tamanho achincalhe.
Dar respostas urgentes a fatos como esses não é questão de gosto, é obrigação de quem está gastando cerca de 3,5 milhões por mês para manter um Hospital, e, alega que o passivo adquirido está “quebrando o município”, sendo que a população – a ser verdade o que não foi desmentido até agora-, passa por constrangimentos e toda sorte de sofrimento, sendo submetida a insumos não confiáveis dento do Hospital.
“Cheguei ao Nair com muita dor devido um estiramento que tive no músculo de minha perna. A médica disse que não sabia como eu aguentava aquela dor, e me explicou que a injeção que tinha lá não seria suficiente para passar a dor, que eu comprasse outra marca numa farmácia, eu peguei a receita e comprei”, disse ao Painel, sob a condição de sigilo, um paciente.
A denúncia levada ao ar na Angiquinho e, antes, na sessão ordinária da Câmara Municipal é de que um enfermeiro oferece sondas de melhor qualidade a pacientes internados no Nair. Inclusive já teria uma máquina de cartão de crédito para facilitar o pagamento.
“Pela informação que a família nos passou, que eu não vou revelar o nome porque a paciente está internada, ainda dentro do Hospital e eles têm medo, entendeu?, de ficar citando o nome deles; a família diz o seguinte: “Tem a sonda dentro do Hospital, mas a dele [do enfermeiro que supostamente comercializa dentro do hospital] é melhor”, disse Gil Leal ontem.
Marconi Daniel em seguida também falou:
“Eu falo é desde dezembro sobre o sucateamento do Hospital e não é apenas sobre o prédio. Eu falei hoje na Câmara porque eu recebi também uma família no meu gabinete e me fez esse relato sobre essas supostas sondas comercializadas, isso é muito grave, não pode acontecer em lugar nenhum desse país, principalmente num Hospital do SUS, administrado pela prefeitura”, reforçou Daniel.
Durante a sessão, o líder do governo, o vereador Leco (PSD) disse que “se for comprovada a denúncia trata-se de um crime.”
O esquisito e inaceitável é que a Secretaria de Saúde não tenha até o momento se manifestado a respeito, nem que seja para reafirmar que tal comércio inexiste, pelo menos aos olhos do governo. Nada, nenhuma linha.
Se a prefeitura quer um conselho: conviria não ignorar as denúncias da imprensa, que o diga a funcionária afastada pela própria prefeitura por quatro meses, após o mesmo Gil Leal fazer uma denúncia ao Ministério Público Federal acerca de uma compra supostamente fraudulenta de respiradores.
Fotos: assessoria/divulgação e Ascom/PMPA.