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Paulo Afonso-BA, 26 de novembro de 2024

Da infância pobre, passando pelo canavial e o trecho, esse é Keko do Benone, novo ator político de Paulo Afonso

PAULO AFONSO – O efeito produzido pela entrada em vigor da nova regra eleitoral que proibiu coligações para vereador, nas eleições de 2020, além de obrigar partidos a saírem à procura de muitos e de qualquer jeito, deu à política municipal um novo integrante.

Antes de chegar ao Parlamento Municipal, Uelington da Silva de 42 anos, conhecido Keko do Benone (Avante) pauloafonsino, fez de tudo.

Do mergulho voluntário para pegar corpos onde o bombeiro não vai, “a 14 metros de profundidade” diz ele, “porque eu pensava no sofrimento das famílias que além de perder um ente querido, se esperar o corpo boiá para o resgate, a pessoa fica desfigurada por causa das piranhas, que tem muito aqui na nossa região, então eu mergulhava para acelerar isso”, lembra Keko; à produção de mais de 17 toneladas de cana de açúcar por dia, “Eu fui para o Sul de Alagoas – meu sogro é alagoano e cortava cana-, baiano tem fama de preguiçoso, mas eu trabalhava na Caiçara, limpando matos naqueles lotes, e vi que o pessoal ia para o corte de cana e ganhava dinheiro, então eu pensei, rapaz eu vou também. Lá eu trabalhei dez anos, consegui comprar casa, moto e dar uma boa qualidade de vida para minha família.”

Keko é casado, tem três filhos e um neto.

Vale dizer que o vereador, surgido de associações comunitárias, mora no Benone Resende há 27 anos. Teve ajuda de um casal que o adotou, quando seu pai morreu, e sua mãe foi até bem pouco tempo ganhava o sustendo como catadora.

É dessa realidade que saiu Keko.

“Eu perdi meu pai muito cedo, fico até emocionado quando falo nesse assunto, porque fui criado por um casal de pessoas da Chesf, trabalhava como jardineiro, me deram uma oportunidade e eu consegui estudar. Mas eu tinha um sonho, eu queria ser fuzileiro naval, então fui para a Paraíba, tentei, não consegui. Minha mãe sempre humilde, e quando todo mundo ficou desempregado mãe passou a catar reciclagem”, conta o vereador.

Fotos: Anderson Gomes, assessor parlamentar.

Sua mãe ainda cata reciclagem?

Não cata mais porque graças a Deus eu tive a vitória. Mas a gente permaneceu nessa coisa da honestidade e eu sempre lutando com capoeira, levando o esporte e nisso conseguimos mostrar para os olhos de outras pessoas que o Benone não era isso que pregavam, que só tinha violência. Nós conseguimos fazer com que o Sesc Ler soubesse de nosso projeto e que a gente conseguia diminuir a violência com esporte e cultura.

O senhor como liderança de bairro era governo?

Não, em duas campanhas saí pela oposição com Raimundo Caires. E nesta houve identificação minha com algumas pessoas e por isso eu mudei.

 Seus 558 votos foram majoritariamente do Benone?

Sim, no Benone eu tirei mais de 300 votos e no BTN 3 mais de 70, também no São José de uma família que sempre me abriu as portas, tive votos na Caiçara e tive também aqui no centro, porque tive ajude de um empresário para quem eu trabalhei como pintor, foram mais 38 votos e fechou.

Como é hoje a sua comunidade, qual é o seu maior desafio?

Muito carente, rapaz, precisa muito que consigamos melhoras para aquela comunidade. Eu faço a minha parte com meu projeto social, com esporte, aula de reforço escolar e para qualificar a mão de obra, mas é do meu bolso, fiz empréstimo e pretendo que fique assim: a criança entre e saia educada, alimentada e disciplinada. Depois que sai da escola a criança não pode ficar na rua. O espaço fica no Benone, na Rua Pituaçu.

O senhor tem como manter o projeto, caso não consiga a reeleição?

Não tenho, a não ser que encontre parceiros. Ele está ligado ao meu mandato, e aí fica nas mãos de Deus. O projeto vai existir porque eu fui eleito, antes não tinha como, porque eu entregava panfleto no Assaí. Eu tenho lá voluntários, o Fernando (Manga), o professor Niltinho que aderiram sem eu ter nada. Então eu os coloquei como assessores, porque foi merecido, eu não posso chegar aqui e esquecer de quem me deu ajuda quando era necessário.

Importante: o projeto social do vereador nessa moldura que ele apresentou está em desenvolvimento. Keko ainda não sabe a quantas crianças vai poder atender.

Outra característica do vereador é não dar publicidade a quem ajuda.

“Eu faço porque me faz bem, não para mostrar a ninguém. Eu não vou colocar fotos expondo ninguém nas redes sociais, eu quero a gratidão, de quem eu ajudo e tá bom.”

O que espera do seu mantado?

Com fé em Deus, pretendo fazer um bom mandato, que o prefeito [Luiz de Deus] possa nos ouvir e nos ajudar. Vamos buscar parcerias. Eu estou chegando agora não sei qual é esse solo que estou pisando, mas vou fazer a minha parte, pois cada um de nós aqui é independente, e vou fazer o que for bom para o povo. Preciso, se as pessoas quiserem de voluntários para os projetos sociais.

A vitória de Keko, em suma, é também a de muitos pauloafonsinos com as mesmas características dele, pessoas que não veem de famílias abastadas ou herdam uma vaga na política ainda que não tenha feito nada para merecê-la.

O vereador é verde, precisa aprender, como se vê a ser político.

Mas antes de ser político, como cidadão sai da condição de aluno e vira professor.

 

Ouça um trecho:

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