PAULO AFONSO– Divergências tangíveis entre o que quer o deputado federal Mário Negromonte Júnior, e o que faz seu político mais importante, Pedro Macário Neto, presidente da Câmara Municipal, trazem apreensão, medo de traição e coloca o Partido Progressista em alerta.
Em suas últimas decisões no Parlamento, Macário mostrou-se mais alinhado ao prefeito Luiz de Deus (PSD) que ao deputado, gerando inconformidades no grupo.
A atuação do presidente foi determinante para que a prefeitura possa adquirir um empréstimo de 80 milhões de reais junto à Caixa Econômica Federal, sob o auspício de um colapso administrativo.
Um político experiente como Marcondes Francisco (PSD), contemporâneo de Macário, não esconde a preocupação com a situação de crise enfrentada pela prefeitura e diz abertamente em defesa do empréstimo que, sem ele não há como a máquina, no que tange às obras, andar.
A oposição, reconhece o problema fiscal, mas coloca na gestão de Luiz de Deus, causa e efeito, para que se chegasse ao cenário catastrófico.
Diga-se de passagem que, em conversa reservada com políticos, incluindo um ex-prefeito, eles não se opõem ao empréstimo. “Se houvesse um planejamento para a finalidade, com muita clareza sobre em quais obras serão investidos, é uma boa alternativa e eu faria sim, caso estivesse no lugar de Luiz de Deus”, disse-me um ex-prefeito que pediu o sigilo. A prefeitura neste momento está com pendências de pagamentos e obras paradas.
Após a sessão da última segunda-feira 23, conversei com exclusividade com o presidente da Câmara que falou abertamente da pressão que sofre e que sofreu. Não negou a surpresa diante do primeiro voto de minerva que viria seguido de outro, quando por 7×7 os parlamentares empataram a votação do Projeto de Lei nº 54, dos 80 milhões de reais. E disse que tomou a decisão correta. “Nunca perdi uma noite de sono”, acompanhe na íntegra, também em áudio, a entrevista com Pedro Macário Neto.
Suas duas últimas decisões aqui na Câmara entraram em conflito com a orientação do deputado federal Mário Júnior [ambos os projetos sobre os 80 milhões de reais], o senhor mostra um alinhamento maior com o prefeito Luiz de Deus, isso não atrapalha os planos do PP em ter candidato próprio à prefeitura de Paulo Afonso?
Eu tenho uma maneira de pensar e hoje a experiência me permite isso. Como você sabe eu trabalhei mais de 33 anos na Chesf, estou aqui no sexto mandato como vereador, me sinto amigo pessoal do deputado Mário Júnior, do Mário Negromonte; o que acontece comigo é o seguinte, Deus me deu o dom de aprender a analisar as coisas. Eu vivo numa sociedade – hoje vivo num bairro pobre como você sabe- e não tenho inimigos e não quero, e procuro ser justo, ora!, se você parar para pensar nesse que no momento de dificuldade pelo qual passa o país, e na nossa região que é Nordeste, semiárido e muito mais, eu não tenho que pensar nesse momento em pessoas, eu tenho que pensar no todo, e foi assim, como você bem colocou, jamais esperei esse primeiro empate, eu assumo, sou transparente, eu não acredito em político que não tenha lado, quando isso acontece quem se prejudica é a sociedade. Na minha maneira de entender eu fui justo para a sociedade. Agora compete a mim, mas que aos outros fiscalizar esse dinheiro. Agora não é justo que eu vote no bolo e vá votar contra se for parcelado, é uma incoerência muito grande. Eu ficaria inimigo de mim mesmo, eu estou 100% em paz, não perdi uma noite, sei entender o lado das pessoas. Não partir contra ninguém porque tenho consciência do que estou fazendo, se lá na frente algo der errado nego vai ouvir o que nunca ouviu, disso você tenha certeza.
Pedro fala da relação com o PP
“Até agora não teve nenhum momento de anormalidade. Infelizmente é a única coisa que nós parlamentares temos é o livre arbítrio de votar com sua consciência, se o PP quiser me expulsar é um direito dele, se eu disser o contrário sou maluco. Agora quem vive na base sou eu, quem toma porrada às vezes quando chefe político ou um deputado toma uma decisão diferente sou eu que levo pancadinha no pescoço e nunca reclamei, porque eu acho que no momento o deputado [Mário Júnior ] sempre votou com a consciência dele, e eu sempre aplaudi, às vezes converso como amigo, mas nem nunca cobrei, se eu tiver que sair desse negócio saiu rindo. Quero manter a confiança que a sociedade sempre me deu e não me dói um minuto, eu quero é contribuir para o crescimento. Agora combato erros, não sou muito de falar, mas todo munda sabe que, não sou muito de falar, mas eu enfrento o mundo.
O Senhor já mandou as explicações à Justiça [sobre a Ação Popular movida pelo ex-vereador Daniel Luiz]?
Sim, não podemos faltar com a Justiça, muito menos eu. Nunca tive problema com a Justiça, tenho juízes amigos, mas nunca foi ao gabinete. Vou respeitar a decisão.
O PP já teve uma circunstancia melhor para lançar candidato, este me parece o mais inoportuno. Porém, Mário Júnior anunciou que o partido terá candidato, o senhor ver isso como forma de pressionar os trabalhos aqui na Câmara.
Não. Eu nem conversei sobre isso com ele. Ele tem o direito de achar que deve lançar ou não candidato, agora você fez uma colocação felicíssima, agora nós tivemos aquela fase áurea com os 16 mil votos dele e os 12 mil de Val [candidatos a deputado federal e estadual respectivamente] era sim o momento de a gente ter lançado, senão na eleição seguinte. Mas essa coisa é discutível, eu só acho que não devemos ter um candidato por candidato, é a minha opinião, porque não adianta enfeitar boneca para os outros, a gente tem que ser transparente; quem pensar que eu vou ter algo contra o PP está muito enganado, ele [Mário Júnior] sabe, porque não minto para ele.