PAULO AFONSO – Regina Barbosa tem trintas anos e uma infância suprimida. Nômade, violenta, pedinte. Ainda pequena, ela e a irmã eram usadas pelo pai para pedir esmolas nas ruas da cidade de Santa Brígida, até que fugiram para escapar de abusos [alguns que ela prefere não revelar] e chegaram em Paulo Afonso.
“Muita gente vai ler e é muito difícil até hoje para nós duas”, comenta a irmã mais nova, sobre a vida da mais velha.
Perambulavam as meninas órfãs de mãe. Ainda por esse tempo, já em Paulo Afonso elas foram para as ruas e por lá ficaram até serem resgatadas por essas pessoas boas que, felizmente, existem.
Hoje, Regina é empregada doméstica, casada e tem dois filhos. Vencida a fase mais complicada de sua vida, em vez de ficar se queixando, a jovem criou o projeto social Seja Solidário em que distribuiu cestas básicas e serviços para pessoas carentes do bairro, com apoio de algumas pessoas.
“Eu sempre tive vontade de ajudar o próximo, mas não tinha condições. Eu fiquei órfã de mãe quando tinha um ano e meio, me criei nas ruas, pedi esmola, morei nas ruas, mas as pessoas foram me ajudando e me cuidaram; então eu quero começar meu projeto de doar sopa”, conta Regina.
Enquanto junta os alimentos necessários para a sopa, Regina não fica parada. Ano passado fez o dia das crianças, e já neste ano: a páscoa solidária e o Dia da Mulher.
“Tudo que eu faço é através de doações, não tenho apoio de prefeitura nem de outras instituições; semana passada eu consegui uma doação do Colégio Carlina com a gincana que eles fazem, meu projeto recebeu parte das doações dos produtos de limpeza e alimentos.”
Doações do colégio Carlina.
Regina me pediu que publicasse a realização de um sonho: ajudar pessoas que passam fome distribuindo sopa. Não tem qualquer outra pretensão. A voz é firme e demonstra uma mulher que venceu toda sorte de adversidade para se tornar cidadã, mas uma cidadã qualquer: uma pessoa que enxerga a necessidade do outro que ela já viveu na pele.
Que se preocupa com a mulher, com a infância e com a juventude. Regina Barbosa não é política, não é uma celebridade, não é religiosa: ela é uma sobrevivente.