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Paulo Afonso-BA, 25 de abril de 2024

Paulo Afonso: a ausência dos poderes na vida prática da mulher violentada

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Deam, terça-feira 27, às 10h30,  entro exasperada na sala da escrivã Esther Magalhães e ela me pede paciência. Cabisbaixa, uma jovem de pouco mais de 20 anos fala monossílabos inaudíveis e sorrir sem jeito, quando eu a cumprimento. Imediatamente pensei: meu Deus, o que aconteceu a ela?

Já se despedindo, Esther tanta lhe dá ânimo; então principiamos uma conversa objeto de minha ida à delegacia, e somos interrompidas por uma senhora. A mãe da jovem. A vítima em questão. Papel da protetiva na mão (mãos trêmulas) e vem a constatação: “Não vou mais sair de casa. Tenho medo.”

Medo, depois lágrimas, vergonha… A mulher está sendo vítima do ex-companheiro com quem dividiu a vida por mais de duas décadas. Está sendo espionada, de forma velada e contínua; o medo da morte se impõe.

Esta é a realidade de milhares de mulheres em Paulo Afonso. Então no próximo dia 08, Dia Internacional da Mulher, as instituições hão de bravatear muito: “ah porque a mulher é isso!”, “ah se não fosse a mulher!”, “mãe”, “amiga”, “companheira”, “trabalhadora”, “do lar…”  e vai nessa toada uma série de frases repetidas acompanhadas de uma flor que não servem para rigorosamente nada!

Na prática, nem a prefeitura, nem a Câmara Municipal, e vale dizer: nem a Justiça, os três poderes constituídos, se dão conta do abismo que existe entre o discurso a vida real das mulheres. E vou ficar num exemplo simples: Paulo Afonso é uma das poucas cidades entre os mais de 400 municípios baianos que têm uma Deam.

Nenhum representante desses poderes, até aqui, se perguntou, por exemplo: como as mulheres, idosos e crianças chegam até à delegacia? Elas precisam andar quilômetros para buscar o atendimento. Ou pagar uma moto, pegar uma carona, etc., mas o transporte público não passa lá.

Logo, é forçoso concluir que não existe a preocupação em aliviar ou minimizar a violência contra a mulher por parte desses poderes se eles não conseguem enxergar as coisas mais fundamentais no contexto delas. Parte dessas vítimas são pobres.

Além do sofrimento, do medo e da vergonha, elas ainda precisam se preocupar em como pagar para chegar na última esperança que é a Deam.

Vendo a situação da mulher vítima de violência em Paulo Afonso, as flores com as quais você vai me presentear já nascem murchas antes de aparecidas.

 

Foto de capa: Deam. 

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